Então naquele fim de tarde, no caos de uma metrópole, lá estava eu esperando o ônibus em mais um cansativo retorno para casa. E foi quando eu percebi que um menino corria de um lado para o outro do ponto, desnorteado, maltrapilho, tentando pegar carona para lugar algum.
Aparentando 11 anos de idade, pele clara, cabelos ruivos e arrepiados - uma criança normal, não fosse o pano com cola de sapateiro que ele tentava despistar em vão em uma das mãos e que volta e meia ele cheirava.
Quando eu entrei no meu ônibus notei que ele também entrou e com uma voz tremula pediu ao motorista que o deixasse subir sem pagar a passagem, o que lhe foi negado. Mas numa atitude repentina eu disse que ele poderia entrar pois eu bancaria a sua viagem. E com o atrevimento pertinente aos meninos de rua ele passou pela roleta e não me agradeceu, apenas foi para o fundo do ônibus.
Então eu sentei-me à cerca de 2 metros dele. Enquanto ele cheirava aquela droga com movimentos descoordenados e um olhar distante, uma senhora do meu lado direito balançava a cabeça como sinal de reprovação. As pessoas tampavam o nariz por causa do cheiro da cola enquanto tentavam ouvir seus mp3, mp4 e o escambau e conversar no zap em seus smartphones de última geração. Ninguém prestava atenção no que estava acontecendo na vida real. Infelizmente a figura daquela criança drogada parecia ser algo normal na rotina dessa cidade estressante.
Durante uns 15 minutos eu imaginei muita coisa. Pensei que ali poderia estar o meu filho de 9 anos e o quanto eu gostaria que alguém o trouxesse de volta para casa. Pensei em tudo que aquele menino estaria passando nas ruas e como eu poderia ajudá-lo.
Confesso que também pensei que ele era apenas mais um lixo da sociedade e que não faria diferença eu tentar mudar seu destino, pois como diz o velho e confortável ditado: uma andorinha só não faz verão. Por fim, pensei que meus problemas já eram o bastante para querer me meter à besta e ajudar os outros.
Então ele subiu no banco para dar altura, puxou a cordinha da campainha e desceu cambaleando pela rua.
De uma forma ou de outra, aquele menino franzino de camisa listrada no momento que partiu, partiu também o meu coração. Ele me deu uma surra e provocou em mim um arrependimento profundo. Aquele moleque me fez refletir sobre tudo o que a gente quer achar e perder nessa vida. E hoje, o que eu mais queria era encontra-lo novamente em um canto qualquer dessa cidade que tanto maltrata os seus filhos. Queria fazer algo por ele. E o que eu queria perder? Esse medo das idiossincrasias da vida, do diferente, do novo.
A última imagem que eu tenho dele é de um gesto de agradecimento que ele fez para mim com o polegar direito enquanto o ônibus arrancava. E eu, sem ação naquele momento, apenas pensei: Isso não foi nada garoto, nada mesmo!
Emocionante meu amigo, emocionante!
ResponderExcluirObrigado Erlon! Abraços,
ExcluirQuantas, quantas, quantas e quantas vezes a vida nos coloca diante de situações como esta e a gente não faz nada... afinal sair da nossa zona de conforto é muito mais complicado do que permanecermos somente refletindo...
ResponderExcluirSó prá colocar uma pulguinha a mais na sua orelha te digo sem medo de estar sendo leviana que isto não acontece somente com relação ao aspecto social... no trabalho,em casa, nos relacionamentos, com relação ao meio ambiente... é muitoooo difícil abandonar nossa zona de conforto.
Um abraço!!!
Concordo Luciana, somos omissos todos os dias. É uma pena!
ExcluirRejuvan,
ResponderExcluirUma situação difícil onde não sabemos o que passou para o jovem entrar nessa... Triste ficamos, ao ver um adolescente vivendo dessa maneira. Vivenciando este momento temos que trasmitir pensamentos bons, rezar, para que alguma luz apareça... e que esse menino cresça e tudo que ele passou na vida esqueça para ser.... Feliz!!!
Valeu Rejuvan! ABraços do amigo.
ExcluirExcelente.
ResponderExcluirÉ muito bom tê-lo de volta à escriba.
Talento não te falta.
Abraço.
Amigos como você também não me faltam... Obrigado guerreiro! Abraços
ExcluirCara, não exatamente como aconteceu com você mas já tive essa experiência e acredite, entendo bem esse sentimento que você está relatando, mas bicho; Não se culpe por esse sentimento de impotencia pois a cura está nas mãos dos nossos governantes porém eles preferem fazer barganhas, aceitar propinas das industrias farmaceutica e empresários e etc...
ResponderExcluirEu sei que para pessoas como a gente que tem sentimento por o próximo (ainda mais quando se trata de criança), isso dói.
Para amenizar quando sou abordado por eles me pedindo dinheiro, ofereço-lhes alimento e quando eles dão ouvidos tento passar alguma coisa para eles.
Isso ajuda bastante.
Beijo no caração meu Amigo.
Abs.
Anderson Peçanha
Obrigado pelo comentário meu amigo. Tenho certeza que sendo o cara boa praça que es, a sua vontade seria de levar essas crianças para a sua casa.
ExcluirGrande abraço.
"Todos os dias somos confrontados com situações semelhantes a essa. Encontramos pessoas pelas ruas e pelas praças solitárias, famintas, sem casa e sem esperança. Se parássemos para ouví-las nos sensibilizaríamos com as suas histórias. Outro dia conheci um carroceiro que perdeu a sua esposa e filho de 06 anos num violento acidente de carro. Disse-lhe que a vida foi dura com ele. Respondeu-me que a vida é dura com todos nós. Falando de Jesus para ele, soube que ele se desviou do "Caminho". Sempre oro para que ele volte para casa do pai. Na verdade essas pessoas precisam que lhes ofereçamos o pão da vida, Jesus Cristo o Salvador e Senhor, que faz o pobre e solitário habitar em família. Isaías 61. 1-3.
ResponderExcluirRosana Benzaquen Habib
Vocês sempre tem uma mensagem de paz para mim, e sempre com uma passagem da Bíblia. Obrigado pela amizade.
ExcluirAbraços,
Parabéns meu amigo por essa bela transposição de um momento da vida real para nosso mundo digitalizado e distante muitas vezes da realidade, como te conheço ha muito tempo, sei que foi por um piscar de olhos que você não o ajudou mais, e a aparente e simples iniciativa de pagar a passagem mostra o quanto você é um cara do bem, que muitas vezes já também me estendeu a mão no meu passado, parabéns meu velho pelo seu carater, muitas pessoas que te conhecem superficialmente, não sabem o exemplo de pessoa que você é. Abraços.
ResponderExcluirIdanir Pawelkiewicz.
Cara, fiquei emocionado com seu relato. Saiba que o pouco que já fiz por você eu já recebi com juros e correção... com sua grande amizade.
ExcluirAbraços meu velho amigo.